e eu escuto boa música e leio bastante
e me aborreço no trabalho e choro de saudade
e amo e perco a paciência e sorrio pra estranhos
e acho bonito ver o tempo mudar as coisas todas ao redor
e me ouço displicentemente e jogo conversa fora e aprendo
e saio e danço e sinto calor e sonho com o mar e com o outono
e escrevo mentalmente e nunca passo pro papel e me repito até vomitar
e taco a cara na parede e fotografo o mundo de fora como se fosse o de dentro
e tenho vontade de tocar sax e não respondo e-mails e penso no futuro
e sinto mais saudade das coisas mais bobas e gosto do que vejo e ouço
e sinto e vivo e presto atenção nas cores e me consolo nas palavras
e me inflaciono e desejo e espero e canso e me machuco
e tropeço e morro de rir e esqueço e resolvo e amanheço e viajo
e morro e quase nunca adormeço e sempre penso
e compro pilhas e demoro no banho e como mal e fora de hora
e desobedeço e volto tarde e fico só a maior parte do tempo e transgrido
e mudo o cabelo e não cumprimento e converso com desconhecidos pela rua
e batuco com os dedos no painel do carro e leio o jornal e bebo
e respiro fundo e me enojo e me apaixono e me enxergo
e recuso convites e não me troco e me emociono e escorrego
e escuto a voz da clarice e me surpreendo e sou irônica e chata
e me recuso a mentir e encontro coisas e pessoas aos pedaços pelas ruas
e ando por aí e não tomo tanto café quanto antes
e adoeço e perco o equilíbrio e vomito estrelas de cinco pontas
e desacredito umas coisas e passo a crer em outras tantas
e me encanto com bobagens e como frutas que não têm sabor e me desconcentro
e tenho raiva e me apiedo e quero um cachorro e fico feliz com boa notícias
e me esqueço de comprar o que preciso e me atraso pra missa
e continuo sem saber ser vista e tenho preguiça e vou ao banco
e trabalho e me vicio e descubro universos novos
e morro de vontade de partir...